Você decidiu entrar em um super projeto de aprovação, cheio de determinação e foco no objetivo.
Só não imaginava que seria traído pela sua própria mente...
Você decidiu o curso (ou a carreira), identificou os conteúdos a serem estudados, calculou quanto tempo terá até a prova, planejou o cronograma semana a semana e está tudo pronto para começar.
Na primeira semana de estudos, tudo dá certo (apesar de dificuldades eventuais). O cronograma é cumprido, os conteúdos são estudados e o tempo é quase todo ocupado com estudo.
Mas na segunda semana, parece que fica mais difícil começar a estudar. O objetivo final - ser aprovado - ainda está lá, mas parece estar muito distante.
Se você tem muita coisa pra estudar, os conteúdos normalmente são maçantes, e a prova está lá longe (seis meses, um ano, as vezes até mais), é bem provável que uma hora ou outra, você tenha preguiça.
Nesse momento, ao decidir entre fazer qualquer coisa que retorne em um benefício imediato e continuar um cronograma que vai levar meses para mostrar resultado, o que você acha que vai acontecer?
Você vai começar a trocar horas de estudo por séries de TV, saída com os amigos, Facebook, etc.
Você sempre tem uma justificativa pronta:
Isso tudo é a receita para um desastre.
Mas não se culpe.
A culpa não é sua. É da sua mente.
No excelente livro Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar, o autor Daniel Kahneman argumenta que nós temos dois sistemas de pensamento.
O Sistema 1, mais rápido, funciona automaticamente, e lida com impressões, intuições e intenções. É ele que nos permite avaliar rapidamente uma situação e tomar uma decisão para evitar perdas imediatas.
O Sistema 1 está intimamente ligado às nossas emoções e como estamos nos sentindo fisicamente no momento. O Sistema 1 avalia nosso estado e decide o que é o melhor... para o agora.
O Sistema 2 é custoso, lento e analítico. Ele é responsável por tomadas de decisões cujos resultados só virão no longo prazo.
O Sistema 2 está preocupado com fatos e análises, e normalmente nos leva a soluções que são as melhores possíveis.
Em geral, nós somos guiados pelo Sistema 1, já que ele custa bem menos energia para ser ativado do que o Sistema 2.
O problema é que, enquanto nós fazemos o planejamento de estudos com o Sistema 2, nós o executamos com o Sistema 1.
Então acontece a seguinte situação: você pensou muito sobre isso e sabe que deve estudar. Sabe que um planejamento de estudos vai demorar e o resultado só vai ser mostrado daqui meses. Sabe que ser aprovado é importante para você, e racionalmente, você deveria estudar de acordo com o seu planejamento.
Mas no momento da decisão entre sentar em uma cadeira para estudar por horas a fio, e fazer qualquer outra coisa que dê um retorno mais imediato, quem é acionado primeiro para decidir é o Sistema 1. E o Sistema 1 sempre decide pelo menor esforço. A famosa preguiça.
Os preguiçosos têm sempre vontade de fazer alguma coisa. Luc de Clapiers, escritor francês
É o mesmo problema que enfrenta a pessoa que quer parar de fumar. Ela sabe que não deveria fumar, ela sabe que fumar faz mal à sua saúde, mas na hora de decidir, ela vai escolher ter o prazer imediato.
A saída para isso seria acionar o Sistema 2, aquele analítico que sabe o que é bom pra gente. Mas esse sistema é custoso, despende muita energia. Então você sabe que deve estudar, e o Sistema 2 o faz ir para o quarto de estudos, mas o Sistema 1 sabe que você vai ter prazer imediato continuando ver sua série no Netflix, e o impede de ir estudar. Essa tensão cognitiva o cansa, o Sistema 2 é desligado para poupar energia e o Sistema 1 manda você continuar vendo TV.
Isso não acontece só com situações que a gente pode rotular como preguiça. Por exemplo, você resolve não estudar hoje porque precisa pegar seu filho na escola. Você poderia ter delegado a tarefa para o esposo ou esposa, e ter mais tempo para estudar. Mas nem chegou a pedir, na sua cabeça é você que tem que fazer isso. Isso é a tensão cognitiva funcionando: ao invés de estudar (tarefa de resultado de longo prazo), escolhe ir pegar o filho na escola (tarefa de resultado de curto prazo).
Viu? Não é culpa sua. Mas você pode fazer algo a respeito.
Existem várias formas de combater esse sistema automático gerador de preguiça e procrastinação. Nesse artigo mostraremos uma forma de tapear o Sistema 1 e fazer os estudos ficarem tão atrativos quanto passar a tarde jogando bola.
O segredo é: você precisa definir metas.
Certo, mas veja bem: ser aprovado é uma meta muito genérica! Ela não nos diz:
E o mais importante: ser aprovado é uma tarefa muito grande.
Essa meta é um ótimo exemplo do que o Sistema 1 ignora quando decide o que fazer.
Para criar metas melhores, que serão avaliadas pelo Sistema 1, precisamos criar uma meta S.M.A.R.T. (esperta, em inglês).
Uma meta S.M.A.R.T. é:
Um exemplo de meta S.M.A.R.T.:
Continue lendo porque nós vamos detalhar cada característica da meta S.M.A.R.T. a seguir.
Esse é o primeiro problema com as metas que a gente cria.
Sabe quando começa um ano novo e as pessoas dizem: “esse ano eu vou emagrecer”, “esse ano eu vou ganhar mais”, “esse ano, eu vou estudar mais”?
Nenhuma dessas promessas vai se realizar. Por quê?
Porque elas não são específicas.
Se você não cria uma meta específica, você deixa claro para a sua mente o que você quer.
As pessoas dizem: “eu vou estudar pra ser aprovado”. Mas o que é estudar? É preciso estudar direito constitucional? Língua portuguesa? Dentro de matemática, é preciso estudar teorema dos triângulos semelhantes?
Se você não sabe aonde quer ir, qualquer caminho serve. Mestre Gato, Alice no País das Maravilhas
Você precisa ser específico ao definir uma meta de estudo. Ao invés de definir “ser aprovado”, quebre essa meta em metas menores.
No começo da semana, defina o que você vai estudar ao longo dela. Defina várias metas, uma para cada atividade de estudo que você deseja completar durante a semana.
Por exemplo:
Se você possui um cronograma, crie uma meta para cada atividade de estudo. Se você estuda por ciclo (fila), defina uma meta para cada item na fila. A gente falou sobre isso nesse artigo.
Essa análise prévia do assunto a ser estudado vai ajudar a reduzir a incerteza sobre o que fazer. E você sabe: a gente tem medo do que não conhece, e rejeita tudo o que tem medo.
Ajude seu Sistema 1: defina metas específicas. Quando você cria metas específicas, você não deixa margem para sua mente. E se você sabe exatamente o que tem que fazer, você aumenta sua motivação.
A meta precisa definir um número. Somente assim você saberá quando parar.
Esse é outro problema quando a gente define metas.
Mas quanto é ganhar mais? Dez reais? Dez mil reais?
Se você não sabe onde parar, como sabe se conquistou a meta?
Nas suas metas deve sempre haver um número. Somente com um número você sabe se você está distante ou próximo do seu objetivo.
Complemente suas metas semanais com um número. E nós temos vários números que podemos usar. Podemos nos basear em:
Exemplos de metas mensuráveis:
Durante os estudos, sempre atualize seu progresso e veja quanto falta para alcançar sua meta. Isso vai ajudar na motivação!
A meta precisa ser alcançável na prática. De nada adianta uma meta no tipo:
Como executar uma meta dessa forma? Provavelmente você levará alguns dias.
O problema dessa meta é que ela é muito longa. As metas S.M.A.R.T. precisam ser alcançáveis, dentro do escopo de uma 1 hora até o máximo de 2 horas de estudo.
O que você acha que seu cérebro mais anima para estudar:
Ou
Lembre-se que além de estudar, na prática existem várias outras opções que você pode escolher:
Se você cria uma meta curta, alcançável em um curto espaço de tempo, você faz com que o rápido Sistema 1 avalie a meta como uma opção a executar. Se a meta for longa, o Sistema 1 nem cogita fazer.
Com uma meta alcançavel, o que passa na sua cabeça é uma coisa assim:
E depois que você começa a estudar, o impulso que sentia de fazer qualquer outra coisa se dissipa, como se não existisse.
Comece com metas alcançáveis de uma a duas horas. Esse tempo é o suficiente para a maioria dos conteúdos. Se ainda assim você sentir preguiça e sem motivação, procure dividir o conteúdo para caber em tempos tão curtos quanto 15 ou 20 minutos.
Se você pensou no seu objetivo final e porque ele é importante para você, então essa característica é fácil de checar.
Tudo o que você estuda tem que ter uma finalidade. Você precisa saber porquê você estuda alguma coisa.
Faça sempre esse exercício de perguntas e respostas:
Anote esse sonho em um papel e cole-o na mesa de estudos. Se possível, use uma foto. Mantenha-a sempre à vista. Isso vai impulsionar sua motivação quando sentir preguiça.
Se você não encontrar um motivo real e relevante para você na sua meta, por que então está fazendo isso?
A meta precisa ter um prazo.
Esse prazo vai vir naturalmente quando você planejar o cronograma semanal de estudos. Você irá estudar matérias de acordo com seus pré-requisitos.
Por exemplo, você provavelmente vai estudar equações de primeiro grau antes de equações de segundo grau.
No começo da semana, você vai planejar todas as metas para a semana. E você vai definir um dia da semana para estudar aquilo.
É só isso.
A dica aqui é não criar prazos super longos. Tipo daqui a dois meses.
Metas S.M.A.R.T. são pequenas, bem específicas e possuem um prazo curto.
Diversas pesquisas demonstram que prazos mais dilatados acabam produzindo menos resultado do que prazos apertados - é como se o cérebro precisasse de pressão para resolver as coisas.
Com um prazo, você saberá também que, se não cumprir, irá comprometer o resto do planejamento.
Se estudar por ciclo/fila, você pode definir um prazo máximo para estudar o assunto. Assim, você tem a liberdade para estudar quando tiver tempo para isso, mas ainda assim coloca um prazo final para você resolver essa meta e passar para outra.
Esperamos que tenha entendido porque a preguiça não é culpa sua.
É simplesmente a forma como nossa cabeça funciona.
Entre escolher “estudar por 1 ano para ser aprovado” e assistir um filme, haverá dias que você vai escolher o que não ajuda a passar na prova.
Mas se a escolha for: “fazer exercícios de matemática por 10 minutos”, não parece tão ruim, não é mesmo?
Lembre-se de criar metas de estudo:
E aí, vai criar suas próprias metas S.M.A.R.T. agora? Aproveite e compartilhe o artigo com seus amigos!
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